Em 2005 e 2006, o Ministério da Educação e Ciência realizou uma pesquisa sobre crianças que se recusavam a frequentar a escola nas 18 cidades e, publicou que em todo o território japonês 112 crianças não frequentam a escola. Entretanto, acredito que a pesquisa da cidade de Oizumi está mais fácil de compreender, isso porque está há detalhes de onde e se as crianças estudam ou não.

Segundo o resultado da pesquisa de 2004, os alunos que frequentavam escola pública totalizavam 47,8%; os que frequentavam a escola reconhecida pelo governo brasileiro 10,9%; e, apesar de ainda não reconhecidas pelo governo brasileiro, mas que se esforçam como cursos particulares, 9,6%. Descobrimos ainda que, apesar de estarem no período de idade escolar, existia um total de 1,8% de crianças que são deixadas na creche. Estamos tentando definir a situação das “crianças que não frequentam nenhuma escola”, o que representava na época um índice de 4,2%. Crianças que foram transferidas de uma outra localidade dentro do Japão somavam 14,3%; e as que retornaram para seu país de origem totalizavam 11,4%. Transformadas em número, as crianças que não frequentavam a escola somavam 24 indivíduos.

 

Podemos perceber a diversidade do local onde as crianças estudam. Pode participar desta pesquisa pelo fato de Oizumi ser uma cidade pequena, e os dados são obtidos com visitas caso a caso, trabalho realizado num período de dois meses. Quando eu estava realizando o levantamento de dados, por vezes notava que a pessoa não estava, mas estranhava a luz estar acesa e chegava a verificar até como estava o medidor de gás, ou pedia que o vizinho confirmasse a ausência do morador. Quantas vezes não tive dúvidas se a pessoa estava ou não em casa. Por isso, sinto que o número apresentado é de grande precisão.

Antes de fazermos esta pesquisa, foi publicado no jornal que “Metade dos brasileiros residentes não frequentam a escola”, como resultado de um pesquisa realizada através do correio na cidade de Oizumi. Este resultado foi um choque para mim, que ia às escolas para dar assistências às crianças, assim como para os professores da escola pública. Vivendo no ambiente de educação escolar, tenho observado como as crianças brasileiras se esforçam, assim como os professores, apesar das limitações da língua. Ainda assim, ao ouvir falar que metade das crianças não frequenta escola, as pessoas logo associam este fato à criminalidade. Porém, posso afirmar que as crianças da comunidade brasileira que conheço não são assim.

Resolvemos fazer a pesquisa juntos, e o fato de o índice ter sido de 4,2% foi um dado que nos deixou muito feliz. Entretanto, não podemos minimizar o fato de que 24 crianças não frequentarem a escola, porque, quando se derem conta do tempo perdido, não terão mais a oportunidade de ir a alguma escola, e não conseguirão ler nem escrever. Para nós, ir à escola é um ato normal, tão normal que, em razão disto, podemos estar nos esquecendo de que essas crianças estão perdendo a oportunidade de aprender sobre a vida cotidiana, relacionamento humano, saúde e higiene etc.

Escola pública japonesa e escola brasileira

Nosso foco agora é o relacionamento educativo das crianças que frequentam escola pública e das que frequentam escola brasileira. Neste contexto há um ponto importante: o fato de haver 20% a 25% de crianças que são transferidas ou retornam para sua terra natal, dados confirmados em recente levantamento efetuado pelo Ministério de Educação e Ciência. Mesmo desejando oferecer oportunidade para as crianças estudarem, não nos é possível conhecer a situação real da residência dessas crianças, o que demonstra que não há coincidência de dados com o registro de estrangeiros.

A impossibilidade de levantamento desses dados acredito representar um grande prejuízo. A esse respeito, neste momento, não temos o que fazer, mas nosso desejo é que haja uma mudança no nosso sistema.

Em relação às crianças que frequentam a escola pública, na pesquisa efetuada pelo Ministério da Educação e Ciência em 1º de maio de 2006, o total de alunos estrangeiros na escola pública primária, ginasial e colegial era de 70.938 que, comparado ao ano anterior, aumentou em 1.114, um porcentual de 1,6%. Este número continua aumentando todos os anos, e a quantidade de alunos infantis estrangeiros que necessitam de orientação na língua japonesa, de acordo com a estatística do Ministério de Educação e Ciência, é de 22.413 que, comparado com o ano anterior, aumento para 1.712 crianças, ou seja, 7,8%.

Crianças que falam o português entre todos os alunos estrangeiros, e que necessitam de orientação na língua japonesa, somam 8.633 alunos. Comparado ao ano anterior, houve um aumento de 1.071 indivíduos, equivalente a 12,4%. Pode-se notar aqui um dado interessante: 1.721 é o número de crianças que necessitam de orientação da língua japonesa, o que quer dizer que a maioria dessas crianças fala o português.

Em relação ao tipo de assistência que está sendo prestado para solucionar esta situação, destaco, primeiramente, em relação ao governo japonês, que a obrigatoriedade de frequência escolar para as crianças estrangeiras ainda não existe institucionalmente. Mas, caso haja o desejo de estudar nas escolas públicas primária e ginasial, as crianças são aceitas gratuitamente, da mesma forma como acontece com as crianças japonesas. É a política que assegura a oportunidade de receber educação semelhante à dos japonesas, com distribuição gratuita de material escolar e assistência para a frequência escolar.

Ainda em relação aos tipos de assistências que estão sendo prestadas de forma objetiva nesses últimos anos, vale citar, por exemplo, a “classe de língua japonesa” ou a “classe internacional”, para as quais estamos disponde de assistente para orientação da língua japonesa e professores bilíngues. Como um exemplo avançado, na cidade de Oizumi, da província de Gunma, entre 1990 e 1992, antes de ser estabelecida a institucionalização no país, já havia sido disposto nas quatro escolas, primárias e três ginasiais as classes de língua japonesa. Além disso, estamos colocando à disposição, em todas as sete escolas, um assistente orientador de língua japonesa, com verba no município. E até 2002, haviam sido colocados, com verba da província de Gunma, dez professores de língua japonesa para todas as escolas

Incentivo para o aprendizado da língua japonesa

Uma notícia recente nos dá conta de que estão sendo construídas Pré-escolas em algumas regiões, como na cidade de Ueda, da província de Nagano, e na cidade de Konan, na província de Shiga, que preparam alunos para se mudar para a escola japonesa sem dificuldades, incluindo em sua grade o ensino da língua japonesa. Construíram uma escola fundamental para educação preparatória do ensino japonês, onde se ministram aulas intensivas de alguns meses, ensinando, por exemplo, que todos devem entrar na sala de aula tirando os sapatos, escrever na lousa, como os professores costumam dar aula etc.

Somado ao acima exposto, damos destaque a algumas das políticas de apoio adotadas pelo Ministério de Educação e Ciência. Em primeiro lugar, estamos dispondo de professores que oferecem orientação da língua japonesa aos alunos infantis estrangeiros, cujo salário é subsidiado em 1/3 pelo Tesouro Nacional. São professores especializados, que em 2007 já totalizavam 985.

Além disso, estamos ministrando cursos para orientadores de língua japonesa. Reunimos professores de todo o país, aproveitando as férias de verão, e executamos um treinamento intensivo. Também elaboramos e distribuímos o “Guia Escolar”, com o intuito de explicar, mais detalhadamente, o sistema escolar japonesa. Este Guia tem cerca de 30 páginas, mas como existe dificuldade para sua distribuição, recentemente o Ministério de Educação e Ciência elaborou uma versão em tamanho A4, frente e verso, que está disponível no site para que os pais possam consultar através da internet.

Fizemos ainda, com o apoio do governo, uma solicitação a cada município para que elaborasse projetos com ideias sobre “Empreendimento de fomento para aceitação das crianças estrangeiras que retornaram ao país de origem”.

O Ministério de Educação e Ciência está dando assistência às Pré-escolas, apoiando um empreendimento que ensina a língua japonesa como uma língua estrangeira, denominado “Língua japonesa como uma segunda língua”, para o qual foi desenvolvido um currículo denominado JSL, com o intuito integrar este ensino como grade curricular. Para tanto, está-se realizando treinamentos, utilizando uma escola modelo, inclusive oferecendo estágio para os professores, e, ainda, elaborando um livro de textos para as escolas primária e ginasial.

Do meu ponto de vista pessoal, a despeito de toda essa assistência, existe um assunto a ser resolvido: Como manter, dar continuidade e desenvolver a vontade de a criança continuar os estudos? Há algum tempo realizei uma pesquisa comparando as crianças que frequentam o primário e o ginásio da escola brasileira e da escola japonesa, sobre o que elas pensam a respeito de seu futuro. Na ocasião, entre as crianças que frequentavam a escola primária japonesa, a vontade de continuar os estudos era maior nos pais do que nas crianças, que demonstravam vontade apenas de estudar até o ginásio ou até o colegial.

No caso da escola brasileira, a vontade de continuar os estudos era bastante elevada, tanto dos pais quanto das crianças. Os entrevistados responderam ao questionário manifestando vontade de cursas uma faculdade e uma pós-graduação e, além disso, fazer o curso no Brasil, e não no Japão. É muito difícil prever qual deles conseguirá realizar o sonho. Na mesma época também presenciei uma cena em que uma criança, junto à diretora e mais oito crianças, que pretendia estudar até a pós-graduação numa escola brasileira, disse, chorando, em sua formatura: “Quando me formar no colegial, vou trabalhar na fábrica”. Portanto, como elevar a vontade de continuar os estudos, não só das crianças que estudam no primário e ginásio da escola pública japonesa, quanto das crianças que frequentam a escola brasileira? Acredito que o fato de o Brasil ter aumentado de oito par anove anos o estudo obrigatório foi um grande salto, entretanto, acredito que é necessário dar continuidade a essas pesquisas.

Há algo que é difícil para nós, japoneses, executarmos, e que necessitamos da colaboração dos senhores: Em relação às crianças, como transmitir e dar continuidade ao ensino da língua portuguesa, da cultura brasileira, e do padrão social? E, mais, como formar a identidade desta criança como pessoa? No Japão, quando uma criança, que tem um bom aproveitamento e boa adaptação no primário e no ginásio da escola pública japonesa, consegue entra no colegial e posteriormente na faculdade, costuma ser apresentada como um exemplo. Considero isto muito importante, porque este pode ser um incentivo para as outras crianças.

Conheci uma professora que desejava educar as crianças desta forma. Em certa ocasião, ela me disse: “Professora, na minha escola está aumentando o número de alunos que pretendem continuar estudando, mas estou um pouco preocupada!. Perguntei-lhe o que havia acontecido. “As crianças estão perdendo a espontaneidade brasileira. Quando acontecei alguma coisa que as deixava feliz, elas davam gritos de alegria. Agora não é assim.”

Ouvi isto com apreensão. Os brasileiros são sempre muito alegres e descontraídos, fazem as coisas com dedicação, talvez ainda falte, de nossa parte, compreensão, mas se essas crianças estiverem perdendo esta identidade, se estiverem se transformando em japonesas, é uma coisa muito triste. O que devemos fazer a esse respeito? Acredito que são coisas sobre as quais precisamos pensar em como solucionar com a cooperação de ambos os países.

Falei há pouco sobre distribuição de alunos e também sobre a escola pública japonesa, agora, quero falar sobre as crianças que estudam nas escolas reconhecidas pelo governo brasileiro e sobre as escolas particulares brasileiras. Estou fazendo uma pesquisa, para o Ministério da Educação e Ciência do Japão, sobre “Quantas crianças estudam na escola brasileira na Japão? E quantas escolas existem no Japão?” Quando perguntamos ao órgão governamental brasileiro para obtermos a lista, apareceram listas que diziam não existir nenhuma escola. Diante desta dificuldade, realizei uma pesquisa e fui a pé, pessoalmente, verificar todas as escolas. Eu sou a responsável, mas como era impossível fazer isso sozinha, solicitei a colaboração de pessoas de 12 províncias. Ao mesmo tempo, convidei também pesquisadores e, durante três a quatro meses, estivemos efetuando uma pesquisa intensiva com 22 pessoas.

A ideia é fazer, anualmente, uma pesquisa comparativa, tendo como data padrão o mês de dezembro, por exemplo: 1º/12/2005, 1º/12/2006… Assim em, 1º/12/2005, procuramos averiguar quantas escolas brasileiras havia com pelo menos uma criança em idade escolar matriculada. O resultado foi a confirmação de 75 escolas. Contudo, ao fazermos pesquisa posterior, foi constatado que seis escolas tinham sido fechadas, uma ficou sem nenhuma criança em idade escolar, apenas crianças em idade pré-escolar, e uma que, por mais que procurássemos, não conseguimos descobrir para onde mudou.

Enfim, foram acrescentadas nove novas escolas, havendo também sete que passaram a aceitar crianças na idade escolar (primário) e duas que, na pesquisa anterior, não tinham sido registradas, mas foram localizadas nessa pesquisa. No levantamento de 1º/12/2006 foram confirmadas 84 escolas pela apuração efetuada recentemente.

Averiguando a educação básica do ensino pré-escolar e a etapa da educação do ensino médio em 2005, estavam matriculas 8.133 crianças, mas em 2006 este total era de 8.810. Observando estes dados, notamos que está aumentando o número de crianças com idade escolar. Em especial, chama atenção, como uma tendência recente, o aumento do número de crianças na fase de ensino médio.

Desta forma, demonstrando objetivamente quantas crianças existem, torna-se mais fácil para o governo brasileiro dar assistência. Assim, neste ano também pretendemos dar continuidade à pesquisa.