P – Jorge Watanabe – Queria pedir que você falasse mais sobre dois conceitos: empregabilidade e network.

R – A empregabilidade, como falei, é uma coisa simples. É a capacidade de se obter um emprego, é algo como uma medida, você tem mais ou tem menos. Em termos concretos, nos dias de hoje, é saber trabalhar com informática, minimamente com o pacote de MS Office (word, excell, power point). Falar idioma é outro item de empregabilidade. Em termos comparativos, vamos dizer, se você sabe falar idioma e eu não, você tem mais empregabilidade que eu.

Atualmente, o que a empresa demanda, sem dúvida, é saber sobre recursos de informática, microinformática, é saber idiomas, trabalhar em equipe, se relacionar bem com as pessoas e fazer várias coisas ao mesmo tempo. São esses itens que, basicamente, as empresas procuram hoje.

 

Sobre o outro termo, network refere-se à rede de relacionamentos. E é nisso que as pessoas pecam. Percebo que os nikkeis têm duas grandes dificuldades. A primeira é que ele não gosta e não está habituado a pedir favor. A segunda refere-se à minha percepção, não é um dado estatístico, eles possuem um aspecto mais introspectivo, não são muito abertos a relacionamentos. Esses dois pontos afetam grandemente o network dos nikkeis.

 

Para estabelecer um network é preciso pedir favor. Por exemplo, chegar para o Dr. Masato e falar: estou precisando de novos contratos de recrutamentos, será que o senhor não poderia me indicar, dentre os seus vários clientes, uma empresa que estivesse interessada em me receber? Isto é network.

 

Pelo padrão Nikkei, as pessoas não se sentem muito à vontade em pedir essa gentileza para o Dr. Masato, e ele, com o coração que tem, sempre está todo disposto a abrir o network dele, graciosamente. Acho que, desde pequenas, receberam, como todos nós, aquela educação de se virar sozinho, não ficar dependendo das pessoas “não se deve depender das pessoas” . Quantas vezes a gente ouviu isso, “cada um trate das suas coisas”. Acho que tem isso, então é difícil pedir favor. Executar favor e prestar favor você consegue, no entanto, pedir é complicado. Então, deixa de fazer uma rede de relacionamentos. Quando dou palestra para um público não Nikkei, chove e-mail, cartões de visitas etc., mas, quando dou palestra para os nikkeis, o número de procura abaixa, isso se vier.

 

Agora, é preciso fazer o network bem-feito. O network é uma matéria que precisa de uma tarde para ser tratada e, no meu atendimento, o que define a rapidez e a qualidade para se conseguir um emprego é essa rede de contatos.

 

Fiquei tão impressionado com a palestra da profa. Inoue, que queria colocar um caso concreto. Estive no Japão em abril deste ano para acompanhar uma grande empresa de software brasileira. Como vocês sabem, o Japão importa softwares, programação, análise, desenvolvimento de softwares da China e da Índia. São bilhões que o Japão importa ou que a China e Índia estão exportando. Porque a mão-de-obra especializada e a tecnologia de informação do Japão são muito caras e escassas. É muito mais caro desenvolver no Japão e, por isso, eles pedem para a China. E o Brasil está de olho neste mercado que gera divisas. São cifras assim: a China e a Índia exportam 3,4 bilhões dólares. O Japão diz: “podem operar com o Brasil, contanto que não tenhamos obstáculos de cultura e de idioma”, porque é isso que nós temos com a China e a Índia.

 

Resumindo a história, o profissional de informática que conheça bem o idioma japonês, e não precisa ser assim nenhum cientista excepcional de Java e Oracle, terá emprego garantido em Tóquio em condições muito parecidas a um shain (funcionário). Um profissional que entenda de SAP, que é um sistema integral de gestão, hoje, facilmente, no Japão, terá um salário de 700 a 800 mil ienes por mês, que é um salário compatível com um técnico do Japão trabalhando em Tóquio.

 

E nós não fechamos o negócio, falhamos nessa. Essa empresa tem 2.400 funcionários e quer vender para Japão. Tem toda-infraestrutura, histórico no Brasil e não vendeu. Mas por quê? Porque essa empresa não tem alguém especialista de AIT que fala, lê e escreve japonês. E se perdeu um contato assim, do tamanho desta sala, enquanto o chinês pega e estuda. Já dei sugestão para a Aliança Cultural Brasil-Japão, de montar um curso de japonês especializado em tecnologia de informática, pois há um mercado tremendo para fazer dinheiro.

 

P – Meu nome é Michele. Você disse várias coisas, dicas para quem tem carinha de japonês. No meu caso, eu sou cônjuge de Nikkei. Qual a dica você da para quem está indo para lá para trabalhar, ficar alguns anos e retornar.

 

R – Vou lhe dar um exemplo concreto, de uma moça não descendente de japoneses. Ela era descendente de romenos e foi ao Japão acompanhando o marido.

 

Aprendeu um nihongo (língua japonesa) muito bonito e, por circunstâncias da vida, o casal acabou vindo ao Brasil e ela foi trabalhar numa multinacional japonesa como secretária do presidente. No Japão ela conseguiu o certificado ikkyu (1º grau). Se alguém está no Japão, precisa batalhar para, minimamente, tirar ikkyu. A melhor maneira de se aprender o idioma é estar convivendo no meio dos nativos, porque você está sendo bombardeado por informações em japonês nativo. Tem de aproveitar e tentar conseguir o ikkyu de noryoku shiken ( 1º grau de Teste de Proficiência em Língua Japonesa). Aí, voltando ao Brasil, você pode oferecer o seu domínio do idioma para um empresa multinacional japonesa, ou para uma não-japonesa que tenha relacionamento com alguma empresa japonesa ou prestar serviços que requeiram o idioma japonês. Existe uma gama imensa.

 

Agora, precisa usar o fato de você não ser descendente de japonês como um aspecto positivo. Aí, você terá de usar a sua criatividade. A gente vai ao Japão, fica de quatro a cinco anos e volta sem saber mexer num computador. Não acredito que, lá no Japao, não tenha um curso ou recurso para a pessoa voltar sabendo, minimamente, um programa Word ou Excell, essas coisas que são tão básicas. E, depois, falam que não tem emprego, o Brasil está ruim, realmente o Brasil não dá, a solução é trabalhar no Japao.

 

Posso estar jogando ácido com a minha fala. Mas, muitas vezes, vejo que, na realidade, está sendo feita a transferência geográfica dos problemas que sem tem no Brasil para o Japao. Quando ele volta, novamente geograficamente, ele traz os problemas de lá, para o Brasil.

 

Vejo nessa função do CIATE, na boa orientação ante de ir, em termos de planejamento de vida e pessoal, de importância fundamental para que o nosso psiquiatra, Dr. Décio Nakagawa, tenha menos pacientes possíveis oriundos dessa população decasségui.

 

P – Eu sou Cylene, colaboradora de Maringá. Em relação ao network, que você falou em termos de rede de contatos, vou falar da minha experiência. Quando retornei, com todo mundo, quis voltar ao mercado e falei com meu tio, dizendo que gostaria de aproveitar toda a bagagem que tive na Sony, trabalhando na parte administrativa 5S e queria ver se conseguia um estágio, aqui , no Brasil. Ele tinha amigos diretores e, portanto, essa rede de contatos dele facilitou para mim.

 

Tive a oportunidade de aprender como foi implantado o 5S na empresa Café Iguaçu em que, praticamente, os mantenedores são japoneses. Acho muito importante para quem vai ao Japão, principalmente no segmento de componentes eletrônicos, tentar absorver tudo sobre 5S, ISSO. Atualmente, aqui no Brasil, isso que é base de tudo em termo de organização que ainda está começando.

 

R – quando vejo a Cylene falando, a primeira coisa que percebo é um querer. No meu entendimento, isso é fundamental. Se não quisesse, não teria trabalhado por essa oportunidade no Japão e, mesmo que aprendesse, não iria querer começar como estagiária. Essa disposição de começar como estagiária, numa função menor, também é fundamental para conseguiu reentrar, aqui, no mercado de trabalho.

 

Eu sou assertivo nessa questão de atitude. Entendo que pessoas que foram ao Japão em circunstâncias não favoráveis levam uma vida pouco favorável e retornam ao Brasil numa condição não muito adequada; são pessoas que, realmente, voltam com a alma abatida. Pessoas desanimadas, cansadas, que foram humilhadas, e muitas vezes sequer têm o mínimo de energia e automotivação para a vida.

 

Estou sendo muito crítico, mas, para mim, está muito claro que, muitas vezes, existem situações muito delicadas que devem ser tratadas por todos nós daqui, inclusive da comunidade Nikkei. E, neste sentido, o Grupo Nikkey, aqui está a Leda e o Paulo que são nossos coordenadores, começou com o trabalho de atender decasséguis desempregados. Trata-se de uma família que se sensibilizou com esse fenômeno e começou a atender sete ex-decasséguis, e hoje, por mês, só uma palestra em que comparecem 250 desempregados, cerca de 30% são ex-decasséguis. O escritório do Grupo Nikkey, de segunda a sexta, no horário comercial, atende pessoas que estão desempregadas e, nesse trabalho, tentamos ajudar e encorajar essas pessoas. São experiência ricas.

 

Quando conversávamos com grupo de ex-decasséguis, e outro palestrantes fez uma introdução sobre quais eram os seus sonhos e quais são seus sonhos agora, como foi sua experiência no Japão. A conversa era em grupo, e algumas pessoas se colocaram enfocando o tema. Mas, uma delas disse que a experiência tinha sido tão ruim, e por isso queria parar com essa abordagem, pois não queria relembrar nem ouvir isso dos outros. Ela tinha vindo buscar emprego e estava precisando muito. Buscamos acomodar os outros e encaminhamos rapidamente essa pessoas para a entrevista.

 

Há outras pessoas que vêm com problemas psiquiátricos já definidos, com esquizofrenia. O Dr. Décio Nakagawa me passou alguns números que me deixaram chocado. No Estado de São Paulo, cerca de 1% da população em geral é esquizofrênica, e 14% sofrem de depressão. Ele me explicou que, num processo imigratório, esse percentual duplica ou triplica. Assim, arredondando a cifra de 300mil de decasséguis no Japão, triplicando o 1%, daria nove mil pessoas. Isso, em termos estatísticos. Depressivos seriam 5.200 num processo normal, mas no processo imigratório, o índice é multiplicado por três e, portanto, seriam 15.600 pessoas. Temos lá, minimamente, três mil co-irmãos nossos em estado de esquizofrenia e 15.600 pessoas em estado depressivo. Como entidade Nikkei, vejo a necessidade de tentar focar no antes, durante e depois. Como, presentemente, estamos no Brasil, ficam ao nosso encargo o antes e o depois.

 

Fica aqui o meu incentivo e minha disposição para o CIATE de cuidar do antes, e temos o Grupo Nikkey que está ajudando a cuidar do depois. A nossa grande missão, aqui, é fazer com que esses indicadores de três mil prováveis ou potenciais esquizofrênicos e esses 15.600 prováveis ou potenciais depressivos sejam reduzidos.

 

P- boa tarde, meu nome é Cláudio Taguchi e queria tecer alguns comentários, talvez como uma forma de complementar alguma orientação ou alguma dica. Tornar, enfim, mais produtiva ou mais rico em termo de informação para aqueles que vão ou estão vindo ou para aqueles que têm certo interesse pelas diversas formas da questão decasségui.

 

Morei por dez anos no Japão. Meu primeiro ano foi basicamente na linha de montagem e, com o aumento de brasileiros que não sabiam ou não dominavam a língua no Japão, fui sendo inserido no contexto de assessorar em tradução/interpretação e de resolver os problemas de brasileiros locais. Tive oportunidade e condição muito clara de buscar o meu caminho, os meus objetivos. Eu me identifiquei com tudo que foi falado hoje, porque, mais do que nunca, a prática e as teorias se uniram no meu pensamento. Parabenizo por esta exposição e gostaria de relatar a minha trajetória.

 

Retornei do Japao há seis anos e a minha fórmula de me inserir ao mercado de trabalho aqui, no Brasil, foi trazer uma empresa. Detectei uma oportunidade de negócio. Retornei por duas vezes e, nessas duas vezes, senti que não era o momento de fazer algo, investir. Procurei novas oportunidades no Japão e tive a felicidade de participar de um processo seletivo, em Tóquio, de uma empresa conhecido por todos, a Sanrio, que é a empresa criadora da personagem Hello Kitty no Japão. Hoje, estou à frene das operações da empresa como diretor comercial no Brasil.

 

Eu me identifiquei muito com o relato do Enio Miyahira e daquilo que ele disse – se for aplicado na prática e 50% for realizado, muitos problemas e dúvidas referentes ao retorno poderiam ser amenizados. A questão decasségui se divide em três partes: a ida, a estada e o retorno. O retorno é mais tortuoso, mais difícil, porque engloba situações de presente, futuro, família, renda, felicidade, dinheiro, sustento etc. Essa exposição refletiu, basicamente, o beabá que o brasileiro residente no Japão deve ter em mente na hora do retorno. Ou seja, consciência de que o retorno não começa quando se pisa no aeroporto de Cumbica, mas começa lá, planejando.

 

R – Quero acrescentar um detalhe. O Ênio, nos finas de semana, não ficava em casa. Ele ia, de porta em porta, oferecendo pão francês, fazendo freguesia. A pessoa tem de estar muito a fim, muito focada em relação aos seus propósitos, não é fácil. No caso dele, usou a “brasilidade” de uma maneira positiva.

 

P – Eu me chamo Isidoro Yamanaka. Já sou um idoso e fico entusiasmado quando o Marcos expõe essas ideias com tanto entusiasmo. Na qualidade de idoso, acho que devo também considerar alguns aspectos daquilo que é o país e, nós, nikkeis, termos de ter uma nova esperança, um novo sonho. Nós temos tanta coisa dentro do país cuja tecnologia, cujo conhecimento são de âmbito internacional, ou seja, tem servidão internacional em muitos setores, muito melhor do que o próprio Japão.

 

Você mencionou o problema do software, só que o Brasil, entre muitos, é um dos países. Eu cito muito, entre meus amigos, o filme recente Procurando Nemo. Eu me identifico, como país com aquele pequeno peixe tendo solidariedade de toda a fauna para encontrar o seu destino.

 

Além desse entusiasmo, de nossa cultura e das nossas condições naturais, temos tanto privilégios internos, mas, até agora, nós não fomos vender nada ao exterior nem nos nossos conhecimentos sabemos vender. Temos um mercado interno extremamente favorável, e o que estamos vendendo para o exterior? Praticamente, no caso do Japão, dos dez maiores produtos que exportamos para lá, sete são produtos alimentares sem nenhum valor agregado. O software é um outro extremo, de um valor agregado extremamente valioso, em que o ATM brasileiro é muito melhor do que o ATM de todo o sistema bancário japonês. E não sabemos vender. Então, temos de saber, daqui em diante, vender no exterior.

 

Deixo alguns exemplos que vivenciei durante três anos no japao de uma atuação triangular de brasileiros no exterior em termos de cooperação internacional. Vejo um horizonte extremamente favorável porque é muito mais criativo e eclético do que o japonês. Deixe-me citar um fato que aconteceu comigo.

 

Nós queríamos fazer uma parceria entre o brasil e japao para ajudar o Timor Leste. Recentemente, estive com o presidente Shamana e queríamos vender conhecimentos, equipamentos para Timor à custa de uma cooperação de US$ 138 milhoes que o Japão concedeu ao Timor, mas os timorenses não sabiam como gastar esse dinheiro. Havia um projeto extremamente intressante de uma empresa brasileira de capital japonês, e, ao acionar esse mecanismo, a empresa perguntou no quadro de funcionários quantos tinham interesse em Timor. Havia três engenheiros nikkeis que sabiam *barrasa, inglês, japonês e, evidentemente, sabiam o português, que está sendo re-introduzido em Timor. Esses três engenheiros tinham ido ao Japão como decasséguis e sido contratados numa subempreiteira e trabalhado durante anos na Indonésia. Então, a criatividade do brasileiro, a sua universalidade, a globalização do brasileiro é muito maior do que a dos próprios japoneses. E a globalização é um modismo que está sendo introduzido agora.

 

Então, eu gostaria, Marcos, que seu entusiasmo pudesse, através do Grupo Nikkey ou de outros grupos que forem surgindo aqui, ao invés d ficar cultuando os aspectos negativos das relações que temos com o Japão, cultuasse uma esperança e um sonho de que temos muito mais a realizar do que os próprios japoneses.

 

Gostaria de parabeniza-lo pela sua exposição e, também, motivar o nosso pessoal a se unir um pouco. Será que o nosso emprego, a empregabilidade aqui, dentro do país, não será melhor do que a do Japão, como decasségui? É uma indagação também a ser feita. Mas, então, por que não autuar no cenário internacional, onde somos muito mais globalizados do que muitos países.

 

R – Dr. Isidoro, é um privilégio tê-lo aqui conosco. Concordo plenamente com o senhor, realmente não sabemos vender. O senhor se referiu à tecnologia de informação, falou dos ATM, eu fui ao Japão e disse: “O senhor não quer trabalhar com o Brasil, o senhor trabalha com a China, com a Índia …”. Ele me respondeu: “Eu não sei nem o que é o B do Brasil …”. Eu falava para ela da segurança do sistema financeiro, do sistema bancário brasileiro em termos de tecnologia, das nossas eleições, que em 12 horas apresentam 84% dos resultados apurados, falei dos casos de impostos de rendas, dos usuários da internet e, também, dos centros tecnológicos como a Unicamp, a USP, e de toda estrutura educacional.

 

Temos tudo isso, mas quem vai vender tudo isso lá, Dr. Isidoro? Como vamos operar de maneira adequada? Agora, eu, como agente blocker desse negócio, que garantia poderia dar para o japonês? Tecnologia e infra-estrutura, nós temos. “Mas, a China e a Índia também têm”. “Ah, e os aspectos culturais e da língua?” “Isso, temos na China, na Índia, na Tailândia”. “Então, o senhor fique tranquilo que, no Brasil, nós temos a infra-estrutura e não haverá obstáculo de idioma e de cultura de negócios”. Se isso fosse verdade, mas é só parcialmente verdade. Mas, o que os japoneses querem ouvir: “O senhor faço negócio comigo, que não terá problemas”. “Não existe obstáculo de cultura e de idioma”.

 

É isso que gostaria de estar falando a ele. Então faz negócio comigo. Em relação a saber vender, hoje está aí o boom das exportações. Acho que, este ano, exportamos US$ 100 bilhões. Mas, de onde vem o fruto dessas exportações? O fruto da exportação que o Brasil está colhendo hoje, é porque a economia americana, a economia japonesa, o mercado chinês estão demandando produção. Nós estamos exportando em função da demanda de lá, e não que estejamos oferecendo, fazendo trabalho comercial interessante ou oferecendo produtos diferenciados.

 

O Dr. Isidoro falou que a gente vende ao Japão produtos tirados da natureza e manda para lá sem processamento, sem agregar valor. Realmente há necessidade de uma capacidade comercial internacional e aí, de novo, entra o idioma para podermos fazer mais negócios com o Japão. E com outros países do mundo também.

 

Geralmente, quando a pessoa volta ao Brasil e quer se empregar, imagina a Nisshin, Ajinomoto, Toyota, Sony, Panasonic, Honda, NGK, NSK. O que ela precisam entender é que, hoje, os grandes empregadores são as pequenas e médias empresas. Então, é melhor deixar esse negócio de querer trabalhar em grandes empresas como Kodak, Fuji etc. É uma alternativa? Sim, mas não se pode focar o emprego somente nessas grandes corporações. Os 70% dos empregos gerados vêm das pequenas e médias empresas. Praticamente, os mesmos 70% são gerados pelas atividades comerciais e de serviços. Precisa mudar esses paradigmas dos colegas de que emprego só em grandes corporações e que, para isso, é preciso fazer o danado do network.

 

P – Boa tarde, meu nome é Leda, fundadora do Grupo Nikkey e do Projeto Tadaima com a ajuda dos voluntários e colaboradores.

 

Parabenizo o CIATE, o Marcos pela apresentação muito bacana nesse encontro. Marcos me surpreendeu hoje. Eu já o conheço desde agosto de 2000, comparecendo religiosamente a todas as nossas atividades. Surpreendeu-me porque hoje ele mostrou um perfil que não conhecia. Ele falou de uma maneira séria, realista. Normalmente, nas nossas reuniões, ele é um entusiasta, otimista, está sempre incentivando todo mundo. Ele tem bastante interesse pelo movimento decasségui.

 

Aproveitando, eu quero pedir para todos que reforcem o que o Marcos sempre diz, lá nas reuniões, que nós observemos cada um desses decasségui e tentemos passar para eles o nosso incentivo, o nosso carinho, porque nós somos aquilo que acreditamos. Então, precisamos fazer que eles tenham capacidade, condições, conhecimentos suficientes para enfrentar esse mundo, não só o mercado de trabalho, mas o mundo tão árido, tão competitivo.

 

Eu tenho três filhos, e sempre acho que eles seguirão a direção do meu elogio. O Paulo, meu marido, é um grande incentivador, ele vive elogiando os filhos, até quando não merecem. Mas percebo que quanto mais os elogiamos, eles vao se corrigindo e, cada vez que fogem do caminho, voltam rapidamente para o lugar.

 

Temos tantas coisas para elogiar os decasséguis, quantas coisas boas eles aprenderam, como o senso de disciplina, de responsabilidade, de pontualidade, de honestidade, tantos valores da cultura que aprenderam ou foram reforçados. Valores que nossos pais, avós, trouxeram aqui, mas que foram reforçados com as experiências do Japão.

 

Não há como interferir nas opiniões se a pessoa deve ou não trabalhar no Japão, o mundo está muito pequeno, cada um deve trabalhar onde quiser, onde achar que vale a pena. Mas temos de estar abertos para a re-socialização quando da volta. De todos os casos, todos disseram que querem voltar definitivamente para o Brasil. Então, vamos ajuda-los na sua re-socialização.

 

R – Obrigada Leda. O que mais me aflige é passar uma boa orientação, um bom planejamento para que a pessoa vá bem, faça as coisas direitinhos e volte bem. Vimos tantas vidas destruídas, sinto um clamor no meu coração que quanto menos estiver assim é melhor.

 

Quem não vai bem orientado, leva família quando não deve levar, filhos, aí um problema acaba transpondo isso para a vida da esposa, principalmente, para os seus filhos que têm um futuro pela frente. Como a sensei (professora) falou, estão indo sem opção, não lhes foi perguntado, e está se definindo um divisor de águas na vida deles que não é favorável.