Educação na pauta do intercâmbio Brasil – Japão

Sempre publicamos o sumário desta pesquisa em português e a apresentamos também na reunião do governo. Em fevereiro e março do ano passado estive no Brasil, juntamente com o pessoal do Ministério da Educação e Ciência do Japão, na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo e no Ministério da Educação, onde participamos de reuniões e trocamos ideias. Na segunda quinzena de outubro fizemos reuniões com a participação de ambos os países, ocasião em que pudemos sentir o reflexo do resultado da pesquisa.

Em primeiro lugar, existem escolas oficialmente reconhecidas pelo governo brasileiro. Creio que seja do conhecimento dos senhores, mas o governo brasileiro estabelece alguns critérios para este reconhecimento oficial. A criança que frequenta a escola. ao término do curso e depois de receber o certificado de conclusão, poderá continuar os estudos no Brasil, pois há um sistema que facilita a transferência. Em março de 2006, obtiveram reconhecimento oficial 49 escolas. Fui informada de que, em outubro, foi enviado um total de 8.600 livros didáticos e dicionários correspondendo a cada ano escolar. Ficamos muito felizes porque, na verdade, havíamos feito este pedido em fevereiro do ano passado.

Na ocasião de escolha dos livros, discutimos com outros professores o que seria mais útil, e a opinião foi de que livros didáticos não seriam tão úteis. Mas, entre esses livros, existem aqueles que já estão sendo utilizados. Pessoalmente, sugeri que o dicionário seria muito bom, porque, mesmo mudando de sério, todos poderão continuar utilizando-o. Minha sugestão foi acatada, e me senti muito gratificada. Devemos continuar verificando as necessidades, fazendo negociações e, para isso, precisamos contar com as sugestões, com a ajuda dos senhores.

A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo também vem pensando numa forma de nos apoiar, mas ainda não passa de estudo visando ao Ano de Intercâmbio Japão-Brasil. Podemos dizer que este estudo está em fase preparatória. A aceitação de professores japoneses em escolas paulistas, e o envio ao Japão dos professores brasileiros, ou seja, o estabelecimento de um vaivém entre as partes, são ideias que estão sendo estudadas. Dessa forma, vimos observando o ambiente de educação das crianças que frequentam escola brasileira no Japão e das que frequentam a escola pública do Japão.

Gostaria de analisar os temas pendentes, mais uma vez, visto agora por todos os ângulos. Como disse há pouco, um assunto comum entre os dois sistemas de ensino é a manutenção, secessão e estabilidade da educação das crianças. Como transmitir e realizar o ensino da língua portuguesa, da cultura e padrão social brasileiro? Isso pode ser possível na escola brasileira no Japão, mas na escola pública japonesa, primário e ginásio, torna-se muito difícil. Como realizar a formação da identidade dos brasileiros, que na escola brasileira no Japão ainda é possível, mas difícil na escola pública japonesa, sem contar a possibilidade de estar totalmente perdida para as crianças que se recusam a frequentar escolas?

É verdade que, hoje, no Japão, o país, o município, os universitários, as ONGs etc., todos nós, em diversos setores, estamos pensando em diversas políticas de apoio. Entretanto, ultimamente venho enfrentado uma grande dúvida. Fala-se muito em “assistência à educação dos alunos infantis estrangeiros”, mas fico questionando se só isso será suficiente.

Falei há pouco sobre as diversas políticas de assistência, como assistência à educação dos alunos infantis estrangeiros. Mas a maioria trata sobre a educação com foco no ensino da língua japonesa, ou como transferir para a escola do Japão, que é uma orientação voltada intensamente para a etapa inicial do ensino escolar. Não considero isto suficiente.

Posso apontar três pontos falhos. Um deles: a saúde, segurança e a relação humana ligada diretamente à vida no Japão. Acho necessária uma educação nesse sentido. O segundo: assistência para a educação do aluno infantil estrangeiro. Neste caso o objetivo está dirigido somente ao aluno infantil estrangeiro. Não concordo com isto. Acho necessária uma educação de coexistência multicultural, incluindo os alunos infantis japoneses. Sendo assim, acabaremos transformando esta educação em uma educação de adequação, que terá o poder de averiguar quanto os brasileiros conseguem se adequar ao Japão. Nós queremos, também, fazer alguma coisa com as crianças brasileiras, algo que possamos fazer juntos, para que possamos ampliar a oportunidade para uma nova educação. Educação de coexistência multicultural. Ainda falta muito para o Japão criar um currículo neste sentido. Acredito que precisamos mudar. Finalmente, o terceiro ponto falho é como transmitir a tradição e a cultura como “brasileiro” para as crianças brasileiras que residem no Japão.

 

O desafio da coexistência multicultural

No Brasil, as escolas possuem muita diversidade. Ouvi dizer que nelas há pessoas de diversos países. Gostaria de aprender como é a educação de coexistência multicultural, aqui, no Brasil, e levar este aprendizado para o Japão. Volto a repetir: É necessário transmitir a tradição e a cultura como brasileiro para os alunos brasileiros. Por mais que nós, professores japoneses, nos esforcemos, os alunos brasileiros não estão conseguindo assimilar. São coisas que os senhores possuem, por isso mesmo os senhores conseguem criar essas crianças. Se estivermos juntos, acredito que algo poderá ser feito neste sentido.

Na Universidade de Gunma estamos desenvolvendo o “Projeto de Pesquisa sobre Educação de Coexistência Multicultural”. Ele foi iniciado em 2002, mas ainda está na etapa inicial. Entramos no sexto ano tateando no escuro. Pretendo apresenta-lo hoje, mas acredito que ainda haja muitas falhas. Portanto, gostaria da opinião dos senhores para, juntos, elaborarmos um novo projeto.

Como disse há pouco, a Universidade de Gunma está executando este tipo de serviço graças à importante verba recebida do Ministério de Educação e Ciência. Entre 2002 e 2004, foi aprovado um orçamento do governo para execução do “Empreendimento de Assistência Especial para Contribuição Regional”, e poucos universidades em todo o território japonês foram escolhidas para elaborar um empreendimento-modelo, tendo como meta a coexistência multicultural, cujo empreendimento seria desenvolvido em cooperação com a região. para nossa felicidade a Universidade de Gunma estava entre elas.

A partir disso, durante quatro anos, desenvolvi este empreendimento na região, mas, como disse o policial sr. Ebine, que possua mentalidade de coexistência e fale o português; professores porque a nossa universidade possui Faculdade de Educação; médico, enfermeira, higienista, nutricionista etc porque a universidade possui Faculdade de Medicina; engenheiro porque possui Faculdade de Engenharia. políticos e pessoas ligadas a administração porque possui Faculdade de Sociologia e de Comunicação. Se essas pessoas falassem um pouco o português, fizessem as coisas juntos com prazer tornando uma ponte de ligação e pudessem compreender ambas culturas, acreditamos que essa seja a missão da nossa Universidade que, no ano que vem, será o 7º e último ano para executarmos os empreendimentos.

Nos primeiros três anos do Empreendimento de Assistência Especial em Contribuição Regional foram executados 56 empreendimentos em oito regiões. No âmbito da universidade, queríamos realizar uma pesquisa que detectasse a real situação, bem como definir um tema adequado para a pesquisa e buscar a solução correta para esta questão. Assim, executamos, com a colaboração da Comissão Educacional da Cidade de Oizumi, uma pesquisa sobre crianças que não frequentam a escola. Além disso, ficamos sabendo que alguns brasileiros ficaram assustados com o grande terremoto na Província de Gunma, e por isso voltaram ao seu país de origem. Efetuamos uma pesquisa sobre conscientização da prevenção para acidentes, buscando dados para analisar como se poderia dar um suporte.

Sobre empreendimento educacional, estamos dando assistência, juntamente com os alunos da Faculdade de Educação da Universidade de Gunma, na forma de reuniões com as crianças, após as aulas, para ensiná-las, de alguma forma, a acompanhar a escola japonesa. Podemos dar, como exemplo, o caso de uma criança que, no ano em que iria aprender a fazer contas de multiplicação foi para o Japão, sem conhecer a língua japonesa. Ela conseguiu chegar ao segundo ano ginasial sem noção da multiplicação, mas, quando surgiu a equação de segundo grau, ela não conseguia resolver as questões. Analisamos, junto com meus alunos da universidade, tentando descobrir o porquê deste problema, e acabamos descobrindo que ela não sabia multiplicação. O curso ginasial do Japão não ensina multiplicação. Portanto, durante as aulas de orientação dadas após o horário normal das aulas, nos esforçamos para que ela tivesse o domínio perfeito da multiplicação, até que aprendesse a equação de segundo grau.

Sobre o Empreendimento de Assistência Médica, podemos dizer que as escolas brasileiras existentes no Japão não são reconhecidas e, portanto, estão fora da legislação sobre saúde escolar do país. Isso quer dizer que, caso o aluno frequente a escola pública japonesa, uma vez por ano ela passa por um exame médico. Mas, se frequenta a escola brasileira no Japão, não tem este privilégio. Quando fui visitar uma escola brasileira, notei que não havia uma sala de saúde. Perguntei às crianças da sala: “Vocês já fizeram exame médico?”. Elas responderam “Não”. Fui outra sala e perguntei novamente. Fiquei surpresa, 1/3 das crianças não faziam exame médico há sete anos. Apesar de existir diferença de pensamento e procedimentos entre os países, um exame médico possibilitaria descobrir preventivamente diversos problemas ou doenças. Por isso, quis fazer este exame médico a todo custo. Obtive suporte dos estudantes da Faculdade de Medicina, e de todos os alunos do curso de saúde. Assim, todos os anos, a universidade nos fornece três ônibus e visitamos as nove escolas brasileiras existentes na província. Continuaremos neste ano também, completando o sexto ano desta atividade, o que significa que já examinamos mais de 3.000 crianças.

Sobre o “Empreendimento de Intercâmbio”, chegou-se à conclusão de que queremos conhecer a cultura brasileira, e os brasileiros querem conhecer a cultura japonesa. Estamos praticando este intercâmbio, sentindo e movimentando o corpo, sem usar muito a cabeça. Além disso, no âmbito do empreendimento de “prevenção para acidentes”, reconstituímos o que pesquisamos, e ensinamos como refugiar-se dos catástrofes na forma de um evento.

Nosso objetivo é criar especialistas, profissionais especializados que possam atuar no setor da multiculturalidade. Assim, passei a emitir diversas informações pelo site e a solicitar para ser convidada às reuniões da província juntamente com alunos. Nessas ocasiões, apresentávamos os dados e as sugestões, apontando as políticas necessárias.