P – Participante

Dr. Camillo, esse depósito que o decasségui tem no Japão deve ser declarado para efeito de imposto de renda? Agora, isso é uma declaração do cliente ou o banco também informa ao Banco Central ou à Receita Federal a existência desse depósito?

E outra pergunta. Qual é, vamos dizer a proporção de clientes dos bancos brasileiros existentes no Japão? Claro que o Banco do Brasil abarca a grande maioria, mas qual é o percentual em relação a outros bancos?

R – Roberto de Camillo

Com relação à primeira pergunta, os bancos no exterior não fornecem nenhuma informação às autoridades brasileiras. Eles seguem a legislação local, e a legislação de sigilo bancário é muito particularizada em cada país.

Desde 2003, creio eu, o Banco Central do Brasil criou a declaração de capitais de brasileiros no exterior, que me parece deve ser feita em março. O Banco Central diz que é para fins estatísticos, para que se saiba quanto dinheiro de brasileiro está fora. Hoje pode ser estatística, amanhã ninguém sabe. Mas quem não fizer essa declaração, quando trouxer esse dinheiro para cá estará sujeito a ter problemas.

Então, pelo menos com quem eu conversava, e enquanto trabalhava no banco, procurava divulgar essas datas, que acabam sendo duas declarações a serem feitas pelos brasileiros. Uma é fazer a declaração de ausente no exterior para a Receita Federal, que é sempre no segundo semestre. E a segunda, essa ao Banco Central do Brasil, de declarar a quantia depositada no banco “X” no Japão, na Europa ou nos EUA. Eu acho que, no futuro, isso evitará um problema maior. Mas os bancos não fornecem essa informação.

Com relação à segunda pergunta, como estávamos conversando no intervalo, isso é uma percepção minha, não sei se é real, mas até 1990 quem ia trabalhar no Japão era a segunda geração, era o nissei, depois passou a ser a terceira geração.

Na minha avaliação, a segunda geração que foi para o Japão se incorporou ao nível do japonês, não aparece mais na estatística, inclusive porque ela tem vínculo muito mais forte com a cultura, se sente mais em casa do que a terceira geração, e assim por diante. Então, essas estatísticas, na minha visão, registram uma pequena fração dos brasileiros que estão no Japão.

Não sei se o senhor acompanha mais diretamente essa questão dos decasséguis da segunda geração, mas tem ocorrido que, primeiro, eles pedem a residência, tiram o passaporte japonês e acabam virando, de fato, um membro da comunidade, eles somem da estatística do Ministério da Justiça do Estrangeiro japonês. Mas, pegando o que há de oficial, o que é de movimento decasségui, é que 300.000 são considerados pelo Ministério da Justiça como estrangeiro, 80% mais ou menos são brasileiros, depois japoneses, em torno de 12% a 15%, o percentual menor, de 5%, é de outras nacionalidades. Eu acho que essa proporção vale para todos os bancos, porque existe uma semelhança entre os outros bancos.

P – Participante

Eu gostaria de saber se, no Japão, um decasségui aprendendo a língua pode operar com cheque normal ou tem de casar em dinheiro? E quanto que ele paga? Ele tem quem sacar pouquinho ou um valor mais alto?

R – Roberto de Camillo

No Japão, há um conceito diferente de conta corrente. Ela se divide em dois tipos de contas, a chamada conta ordinária que não rende juros, mas poderá ter talão de cheque. Na prática, a pessoa, no dia-a-dia, não precisa de cheque para nada lá e, portanto, de maneira geral, os japoneses não têm conta ordinária nos bancos. O outro tipo é a conta poupança, digamos assim, nós é que a chamamos assim. É uma conta de rendimentos e, através dela, o cliente tem acesso a outros produtos do banco, como cartão de crédito Visa, e pode fazer operações mais sofisticadas.

Na prática, ninguém usa o talão de cheque, mesmo as empresas, pois, com o cartão de um banco japonês é possível fazer praticamente todas as operações. Até 10 anos atrás, o cartão de crédito não era muito difundido, e no Japão se pagava tudo à vista. Mas não precisava levar uma mala preta de dinheiro. Você comprava, entregavam em caso e só então você pagava. Então, você podia andar pelo comércio, encontrar aquela geladeira bonita, comprar e mandar entregar, para pagar no ato da entrega, em sua cada, em dinheiro. Eles aceitavam esse tipo de pagamento.

Hoje, o cartão de crédito se difundiu de tal forma que parece com os EUA, e isso está ocorrendo agora no Brasil. Paga-se tudo com cartão de crédito. Eu nunca usei o talão de cheque no Japão, e creio que não seja fácil consegui-lo em qualquer banco. Acho que nem os bancos japoneses operam em conta corrente pessoa física com talão de cheque.